terça-feira, 3 de agosto de 2010
Um príncipe pra chamar de meu
Príncipes não nascem todos os dias, como já se sabe.
Príncipes pós-modernos (o que, no caso do meu, significa um chileno com ascendência franco-germânica radicado no Brasil), além de não nascerem todos os dias, são mais difícies de encontrar devido à multidão. Imersos nela, passam, despassam, repassam. E quase sempre não dá tempo de (re)conhecê-los. Baudelaire que o diga.
Meu príncipe beijei pela primeira vez num Sábado de Aleluia. Foi difícil saber que era o cara, pois tivemos muitas idas e vindas e autossabotagens (sempre misturados a momentos incríveis), mas uma história que começa em uma data como essa não tem nada de banal.
Mais de duas páscoas depois, lá estávamos, eu e ele, no Aterro do Flamengo. Um ensinando, a outra aprendendo a andar de bicicleta. Gente à beça. Centenas de adultos que sabiam andar de bicicleta vendo outra ser iniciada.
Caí, me machuquei, mas ele não desistiu.
Nem eu. Porque eu sabia, como já tinha dito a mim mesma em sonho, que meu príncipe seria assim identificado: a bicicleta, eu sobre ela, o gosto da liberdade mais forte do que o medo de cair - tudo isso ele ofereceria a mim. Ainda bem que aceitei.
Príncipe, amo você. Feliz cumpleaños!
quinta-feira, 29 de julho de 2010
Aqui
Me pede em casamento, mas não agora
domingo, 18 de julho de 2010
O tempo dos homens
Relógio biológico. Expressão utilizada para se referir à urgência feminina em procriar. Aproxima-se de tempo, vida e mulher, três substantivos comuns indissociavelmente ligados. Disso pode nascer um bebê, mas a existência de tão fofa criaturinha depende de um outro gênero: o masculino; aquele que, como se sabe, pode procriar praticamente em qualquer fase da vida. Talvez por isso, a expresso relógio biológico sempre pareceu pouco aplicável a ele.
Mas eis que o possível futuro pai do meu possível futuro filho me diz hoje que, se passar dos 40 sem filhos, continuará sem tê-los, só que definitivamente. Em princípio, fiquei confusa – achava que ele não tinha pressa –, mas depois vi que era melhor sair do particular para o universal, e daí para a conclusão de que homem também pode ter relógio biológico, só que sem ponteiros. Isso é o mesmo que dizer que eu não os compreendo, os homens, esses cuja urgência parece tão inverossímil quanto ameaçadora.
quarta-feira, 7 de julho de 2010
Amar é
Fazer regime juntos.
Encarar o Prezunic de mãos dadas.
Jogar gamão e ajudar o "adversário".
Sonhar que transa com quem se dorme todos os dias.
Escutar os problemas do trabalho.
Aconselhar.
Desvendar uma tela de Miró.
Dançar coladinho.
Lavar a louça.
Beijar.
Dividir as contas.
Rir das mesmas coisas.
Rir de coisas diferentes.
Dar um desconto para as crises de mau humor.
Criar e variar apelidos que só os dois conhecem.
Ganhar uma tartaruga de pelúcia.
Ler a Odisséia juntos em voz alta antes de dormir.
Sentir raiva de coisas comezinhas.
Perdoar.
Sentir tesão.
Não se conter de felicidade.
quarta-feira, 23 de junho de 2010
Ser beijada
A guerra acabou. Que venha o beijo na Times Square. De preferência um que tome a mulher de assalto, que a impeça de pensar.
A guerra acabou, no beijo a linguagem da boca é bem outra.
Eternizado na foto de Alfred Eisenstaedt, o encontro entre o marinheiro e a enfermeira foi parar na capa da Life. Isso não aconteceu apenas porque representava o fim de um conflito mundial. Ali estava a delícia do fugaz.
Edith Shain – hoje o mundo lembrou-se de seu nome – morreu 65 anos depois daquele beijo. Roubado? É provável. “Well, I guess I'd take a look at the guy [laughs]. I never looked at him—you know you close your eyes when you get kissed, at least I did—and then I turned around and walked away. And I guess he went on to kiss more girls.”
Ela também contou que, antes do beijo, estava num hospital público de Nova York, onde trabalhava, quando, escutando o rádio, soube do fim da guerra. Correu para as ruas. Quantas mais fizeram o mesmo?
E se ela tivesse conhecido o marinheiro no navio e se apaixonado por ele? A cena que vemos na célebre foto seria o começo do fim. E se fossem namorados que se reencontravam no coração de uma cidade? Talvez parassem no altar. Mas a declaração de Edith não deixa margens para elocubrações. Desconstrói o romantismo da foto, e o que sobra são dois jovens que haviam se conhecido há alguns instantes, ambos secos por felicidade e prazer.
E daí? O que encanta nesse beijo é que está, em sua fugacidade, fora do tempo. Nem passado, nem futuro. Apenas o doce conflito entre dois corpos que se tocavam pela primeira e última vez.
Oh, boy!
terça-feira, 15 de junho de 2010
Cenas de um casamento I
Ela é, pela segunda ou terceira vez na vida, e com menos de 30 anos, madrinha de um casamento. Seu namorado (hoje ex, com a graça do Senhor), um misantropo que acha tudo um saco, obviamente recusa-se a ir ao evento. Então ela decide levar a própria mãe, numa clara demonstração de que não está muito à vontade com o posto.
Nada que o álcool não seja capaz de modificar.
Depois de virar todas as taças de espumante que lhe são oferecidas e de dançar músicas que jamais a fariam mexer um músculo em estado de sobriedade, está na cara que colocou o superego pra dormir.
Lá pelas três da manhã, alguns raros convidados ainda presentes, a moça deixa finalmente o salão, não sem antes estender a mão na direção de um bem-casado. O gesto inocente é interrompido por uma jovem de coque, uniforme azul-marinho, unhas impecavelmente pintadas. Assistente de cerimonial. Diz que não já não é permitido aos convidados comer os doces da mesa: a festa acabou, caminho da roça, game over.
“Assistente de cerimonial. É isso o que você será para sempre, queridinha, impedindo pessoas de pegar um simples doce antes de ir embora pra casa. E tem mais: vocês vão aproveitar esses docinhos no sábado que vem, que eu sei.”
A madrinha embriagada disse isso – triunfante, tola – e foi embora. Como sofre de amnésia alcoolica, jamais se lembraria do episódio se a noiva, sua amiga, não tivesse, dias depois, passado a mão no telefone para contar tudo – fala por fala.
Ah, a crueldade feminina.
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