terça-feira, 15 de junho de 2010

Cenas de um casamento I


Ela é, pela segunda ou terceira vez na vida, e com menos de 30 anos, madrinha de um casamento. Seu namorado (hoje ex, com a graça do Senhor), um misantropo que acha tudo um saco, obviamente recusa-se a ir ao evento. Então ela decide levar a própria mãe, numa clara demonstração de que não está muito à vontade com o posto.

Nada que o álcool não seja capaz de modificar.

Depois de virar todas as taças de espumante que lhe são oferecidas e de dançar músicas que jamais a fariam mexer um músculo em estado de sobriedade, está na cara que colocou o superego pra dormir.

Lá pelas três da manhã, alguns raros convidados ainda presentes, a moça deixa finalmente o salão, não sem antes estender a mão na direção de um bem-casado. O gesto inocente é interrompido por uma jovem de coque, uniforme azul-marinho, unhas impecavelmente pintadas. Assistente de cerimonial. Diz que não já não é permitido aos convidados comer os doces da mesa: a festa acabou, caminho da roça, game over.

“Assistente de cerimonial. É isso o que você será para sempre, queridinha, impedindo pessoas de pegar um simples doce antes de ir embora pra casa. E tem mais: vocês vão aproveitar esses docinhos no sábado que vem, que eu sei.”

A madrinha embriagada disse isso – triunfante, tola – e foi embora. Como sofre de amnésia alcoolica, jamais se lembraria do episódio se a noiva, sua amiga, não tivesse, dias depois, passado a mão no telefone para contar tudo – fala por fala.

Ah, a crueldade feminina.

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