quarta-feira, 23 de junho de 2010

Ser beijada


A guerra acabou. Que venha o beijo na Times Square. De preferência um que tome a mulher de assalto, que a impeça de pensar.
A guerra acabou, no beijo a linguagem da boca é bem outra.

Eternizado na foto de Alfred Eisenstaedt, o encontro entre o marinheiro e a enfermeira foi parar na capa da Life. Isso não aconteceu apenas porque representava o fim de um conflito mundial. Ali estava a delícia do fugaz.

Edith Shain – hoje o mundo lembrou-se de seu nome – morreu 65 anos depois daquele beijo. Roubado? É provável. “Well, I guess I'd take a look at the guy [laughs]. I never looked at him—you know you close your eyes when you get kissed, at least I did—and then I turned around and walked away. And I guess he went on to kiss more girls.”

Ela também contou que, antes do beijo, estava num hospital público de Nova York, onde trabalhava, quando, escutando o rádio, soube do fim da guerra. Correu para as ruas. Quantas mais fizeram o mesmo?

E se ela tivesse conhecido o marinheiro no navio e se apaixonado por ele? A cena que vemos na célebre foto seria o começo do fim. E se fossem namorados que se reencontravam no coração de uma cidade? Talvez parassem no altar. Mas a declaração de Edith não deixa margens para elocubrações. Desconstrói o romantismo da foto, e o que sobra são dois jovens que haviam se conhecido há alguns instantes, ambos secos por felicidade e prazer.

E daí? O que encanta nesse beijo é que está, em sua fugacidade, fora do tempo. Nem passado, nem futuro. Apenas o doce conflito entre dois corpos que se tocavam pela primeira e última vez.

Oh, boy!

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