quarta-feira, 19 de maio de 2010

Ctrl + Alt + Del ou Por que vale a pena pensar na ideia de eterno retorno


Qualquer pessoa com o mínimo de inteligência sabe que uma vida digna é uma vida de escolhas. Das comezinhas às grandiosas. Dizer sim ou não, virar à esquerda e não à direita, acreditar ou não na vida após a morte, ser Flamengo ou Botafogo – tudo é escolha.
Qualquer pessoa com mais que o mínimo de inteligência sabe que é difícil fazer escolhas. Principalmente as certas. Mas como sabê-las certas? Nietzsche diz que devemos escolher de uma maneira tal que nossa escolha seja por nós sempre desejada. O conceito de eterno retorno é isso: ter vontade de algo, poder ter forças pra bancar essa vontade e, assim, empreender a ação que você gostaria de ver se repetindo infinitas vezes. “Ctrl + Alt + Del”, no eterno retorno, é um recurso desnecessário.
Isso me leva a duas conclusões. Primeira: se a ideia é fazer sempre o que se quer, então o dever vai para as cucuias. Segunda: mesmo depois de ultrapassar a ideia de dever – o que muitas vezes é, pro meu olhar cristão, quase um horror –, há o medo de se arrepender depois de fazer o que se quer e ter que teclar “Ctrl + Alt + Del” pra tentar sair da enrascada.
Sabe o que diz Nietzsche? Se você fez o que realmente quis, e entendeu o valor disso, vai olhar pra trás e se comprazer até na dor. Em outras palavras, essa dor doerá menos.
Sábado à noite, andando pelas ruas da cidade, ouço uma voz familiar chamar meu nome. Desvio o olhar de uma vitrine e me deparo com F., meu primeiro namorado, primeiro também a me pedir em casamento (depois dele foram mais dois, mas isso eu conto em outro post). Na época eu disse não, obrigada.
Ele continua bonitão, mas na verdade não faz o meu tipo; ele ainda é uma pessoa alegre, mas eu desconfio da alegria que é alegre em tudo; ele continua me achando excêntrica e me dizendo o que eu sou e o que eu não sou (!). Não quer enigmas. Não os vê. Por tudo isso, F. continua sem fazer parte do meu mundo.
Há mais de dez anos, terminei com ele num “Ctrl + Alt + Del” de fazer o chão tremer, assumindo que o meu querer era não querer aquele sujeito feliz, demasiadamente feliz. Fui corajosa o suficiente para dizer NÃO à comodidade de classe média alta e de certezas em que a vida ao lado de F. me meteria. Eu queria o mundo, e ele me daria um casamento de primeiro capítulo de novela. Era pouco, muito pouco para uma garota de 21 anos.

Um comentário:

  1. Tem coisas que dão a maior dúvida se queremos realmente ou não, né? Mas a decisão tem que ser tomada, e só depois de um tempo – às vezes depois de um tempão! – é que percebemos se foi a melhor. Hoje tenho certeza de que minhas duas separações foram fundamentais para minha sobrevivência mental. E eu é que escolhi. Dá-lhe Nietzsche!

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